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Foto do escritorGrazieliAnjos

Com quem eu falei?

Atualizado: 17 de jul.




Luiza adorava caminhar pelas ruas movimentadas da pequena cidade na qual morava. Enquanto andava, cumprimentava os vizinhos, conversava com os vendedores das lojas e trocava sorrisos com qualquer pessoa que passasse por ela. Luiza se sentia feliz em interagir com tantas pessoas diferentes. E naquele dia, caminhando em direção ao trabalho, avistou uma amiga que não via há anos.


“Olá, como você está?”


E naquela pergunta já saiu contando de todos os detalhes de sua vida, até de perguntas que não foram feitas e temas que ninguém queria saber. Elas se despediram e Luiza ficou com aquela sensação de sempre: “Por que falei mesmo?” E prometeu a si que não iria mais compartilhar detalhes banais de sua vida com qualquer pessoa que encontrasse.


Mas na próxima quadra encontrou mais um conhecido da vizinhança e lá se foram mais alguns minutos de conversa. Ele contou para Luiza de seus problemas de saúde e ela compartilhou sobre as pequenas frustrações da vida. E novamente, Luiza falou demais e saiu de mais uma conversa com aquele peso na consciência que devia ter falado menos.


Para Luiza falar com as pessoas e se abrir para desconhecidos era uma especiei de vício, ela não conseguia controlar, pois quando viu já tinha falado mais do que deveria.


Por falar demais, Luiza era conhecida no bairro e todos a achavam simpática, alguns já não gostavam de suas atitudes intrometidas e outros achavam que ela fazia uma espécie de personagem ao querer ser legal com todo mundo. Mas Luiza só tinha uma mania de querer ser sempre agradável que às vezes esquecia de ser agradável para si mesma. E, por querer que todos gostassem dela, estava sempre dando todas as explicações possíveis e impossíveis sobre a sua vida, explicações detalhadas que ninguém, no fundo, se importava.


No trabalho, tinha a ilusão de achar que tinha amigos em meio aos colegas e eles sabiam de cada detalhe da vida dela, mas ela não sabia nada sobre eles… Às vezes ficava o horário inteiro de almoço falando sobre a própria vida, mas não ouvia os colegas falarem sobre as deles.


E na volta do trabalho, Luiza falou com mais um conhecido que encontrou na rua. Enquanto ele falava de coisas banais, Luiza entrou em detalhes absurdos sobre ela que não se entraria em conversas triviais. Cada um foi para o seu lado e, mais uma vez, Luiza sentiu em seu peito a angústia de ter falado demais.


Ela chegou em casa meio deprimida por não vencer seu vício de falar demais, olhou para sua mãe e quis lhe contar sobre seu dia e o que recebeu foi só mais uma careta desinteressada, então ela foi para o seu quarto conversar com seus travesseiros.

Luiza falou com tantas pessoas naquele dia, mas no fim ela não havia conversado com ninguém, não de verdade. Ela percebeu que sua mania de falar, falar e falar é só uma desculpa para esconder uma certa solidão que a apavorava era uma solidão que doía de uma forma intensa e que ela tentava disfarçar com sorrisos amarelos, mas quando chegava em casa compartilhava em lágrimas os seus secretos com os seus travesseiros.


No final do dia, ela nem sabia mais com quem havia falado, só sentia que, por mais que tivesse conversado com diversas pessoas ao seu redor, ela, no fundo, não se importava com nenhuma delas e com nenhuma das suas histórias. O fato é que Luiza sentia-se sozinha quando se encontrava em multidão e tentava a todo o custo montar uma personagem para que não descobrirem que de verdade ela queria estar completa e feliz sozinha em seu quarto.

E essa dualidade de sentimentos a fazia questionar todos os dias com quem de fato ela falava e com quem de fato ela se importava e chegou a conclusão que não se importava com quase ninguém e por isso sentiu em seu peito o anseio de se importar com pelo menos alguém.


E com tamanhos questionamentos na mente, Luiza adormeceu querendo saber, afinal, com quem ela havia falado. …


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