Acordei com uma dor latente e uma bochecha do tamanho do mundo. Era um "Tum Tum", como se fosse um monstro dentário que me perseguia. Era como um tamborim marcando o ritmo da minha agonia. A cada batida, sentia um vulcão prestes a entrar em erupção dentro da minha boca. Tentei negociar com ele, prometi doces, presentes, mas o "Tum Tum" era implacável. Aquele "Tum Tum", insuportável que batia igual uma escola de samba, me dizia que provavelmente teria que desembolsar uma boa grana. Pois, no final, só a extração o silenciaria. A verdade é que já estava enrolando há 3 anos para arrancar aquele dente e agora eu não tinha como enrolar mais, ou era aguentar o monstro do "Tum Tum" ou me submeter a tortura da cadeira do dentista.
Lembrei, meio que por acaso, que agora eu tinha convênio, me dispus no meio da dor angustiante achar alguém para me atender. Ligo para um, ligo para outro, ninguém quer tirar meu dente, não pelo convênio pelo menos. Eu tentei, mas realmente vou ter que pagar um valor absurdo para me livrar daquele monstro...
E aqui me peguei pensando o porquê enrolei tanto tempo para tirar esse dente? O porquê esse costume horrível de empurrar tudo com a barriga? Vamos enrolando para tomar providência na vida pelo puro medo de não sabermos lidar com as mudanças necessárias, empurramos tudo com a barriga até que tudo se exploda na nossa cara da forma mais poética possível e não, não tô falando do meu dente inflamado.
Mas, voltando a ele... Um "Tum Tum" desfreado em um dente sem utilidade me fazia gritar de dor. Parecia que ele ria da minha cara e sentia prazer ao me fazer sentir mais e mais dor. Então, pedi recomendações de dentistas para amigos, pois já tinha dito experiências horríveis com péssimos dentistas e precisava de um com boas recomendações. Para mim, dentistas eram sempre os vilões das minhas histórias, eu sempre caia em um pior do que o outro.
No final, entrei em contato com um que foi bem recomendado e agendei o procedimento. Mas teria que aguentar mais alguns dias com aquele monstro dentário rindo da minha cara… E quando o aguardado dia chegou, o Tum Tum batia como um tambor de guerra, anunciando a iminente batalha. 'Prepare-se, mortal', ele zombava em meus pensamentos. Olhei no espelho e vi meu reflexo pálido, cercado por uma aura de dor. O Tum Tum havia se apoderado de mim, transformando minha boca em um campo de batalha. Suspirei fundo e segui em direção ao dentista, pronto para enfrentar o monstro dentário. Quando chego e toco a campainha, a recepcionista vem abrir o portão e eu subo aquelas escadas pensando na dor futura que há de vim. A batalha iria se iniciar em breve, e eu deveria ganhá-la, pois naquele momento eu só estava perdendo. Já se passaram 3 dias com esse monstrinho me irritando, e eu só precisava que ele saísse da minha boca e me deixasse em paz de vez.
Eu me deito, recebo anestesia e o dentista começa o trabalho. Não sinto dor, afinal to anestesiada, mas sinto o incomodo insuportável daquela maquinha do inferno. Isso me faz recordar mais uma vez o do porquê odeio ir ao dentista. Na verdade, existe alguém nesse universo que goste de ir ao dentista? Ele vira, mexe, puxa, sacode, molha e eu fico lá parada com a boca aberta torcendo que aquele dente pule da minha boca e saia dele o mais rápido possível. E naquela angustia me recordei o porquê enrolei 3 anos para retirar esse bendito..…
Depois de uma prece silenciosa pedindo a Deus para sair daquele sufoco, finalmente o dente sai de mim. Eu havia ganhando a batalha, quero comemorar minha vitória, mas não dá, ainda tem que fazer os pontos e minha boca permanece aberta por uns bons minutos.
Ao sair do consultório, senti uma leveza que há muito não conhecia. O Tum Tum havia sido derrotado, mas deixou em mim uma lição valiosa: às vezes, para superar nossos medos, precisamos enfrentar nossos monstros de frente. E, quem diria, até os dentistas podem ser heróis. Compro meus remédios, e aceito que os próximos dias serão a luta contra o tédio e um novo tumtum da recuperação.
E me pergunto quem vai vencer?
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