Mais um dia de trabalho, ela levantou cedo, esticou as pernas e foi se arrumar. Hoje era um dia importante. Ela poderia ser promovida para o cargo que ela esperava há anos, tudo devia sair bem.
Mais um dia de trabalho, ele se levantou com preguiça para ir ao um serviço que não gostava e trabalhava apenas para ter uma merreca de dinheiro no fim do mês. Todos diziam que ele deveria ser grato, pois pelo menos tinha dinheiro para pagar as contas, mas a que preço ele teria esse dinheiro?
Ela saiu tranquila de casa após ter comido um belo café da manhã seguindo todas as orientações da sua nutricionista. Ele saiu de casa correndo ainda mastigando um pedaço do pão velho que ainda estava no armário.
Apesar das diferenças da manhã aqueles dois fariam o mesmo caminho. Ambos se esbarraram no trem lotado no momento do embarque e por uma fração de segundos seus olhares se encontraram e mesmo sendo desconhecidos tinham uma cumplicidade singular. E na mesma fração de segundo que se vieram, foi o segundo que se perderam em meio a multidão.
Ela estranhou aquela situação, não estava acostumado a trocar olhares com estranhos.
Ele se encantou com aqueles olhos castanhos-claro que o fizeram finalmente despertar para aquela manhã conturbada.
Chegaram finalmente em seus destinos, ele com a cabeça baixa e com preguiça de ir para aquele emprego. Ela com a esperança de que todo o seu esforço seria recompensado.
E para a surpresa dos dois se encontraram no elevador. “Como poderia trabalhar no mesmo lugar e nunca ter visto aqueles olhos?” Ele se perguntou quando a viu. “Será que o conheço de algum lugar?” Ela se perguntou quando o viu.
Ele desceu no 2º andar e ela continuou até o 8º e mais uma vez aqueles olhos que pareciam que se conheciam, se perderam no fechar de uma porta.
Ele ficou com ela o dia inteiro na memória. Fechava os olhos e via aqueles olhos castanhos-claro compartilhando com ele um olhar sustentado.
Ela pensou nele por alguns instantes, mas logo o esqueceu. Aquele era um dia importante demais para se distrair com desconhecidos.
E a hora mais feliz do assalariado chegou, a hora do almoço! Ela estava confusa, pois até aquele momento ninguém havia conversado com ela sobre a promoção. Ele estava cansado de mais um dia de um trabalho do qual não gostava.
Ambos pegaram o elevador para irem comer no restaurante da esquina e mais uma vez suas vidas se cruzaram. Como poderia duas pessoas que nunca tinham se vistos até aquele momento se encontrarem mais de uma vez em apenas um dia? Ele sorriu para ela em forma de cumprimento, ela confusa com o sorriso recebido, apenas balançou a cabeça em sinal de oi.
Desceram sozinhos em silêncio. Ele depois de um sorriso sem resposta não teve mais coragem de iniciar nenhuma conversa, ela com o coração acelerado sem saber o que acontecia ignorava a pessoa ao lado que lhe causava aquele rebuliço.
O final do dia de trabalho chegou, ele foi chamado no RH da empresa e foi logo demitido, mas assinou aquela demissão com um sorriso no rosto, pois sentia que um camelo saiu de suas costas.
Ela viu sua colega de trabalho, conhecida como a maior puxa saco da empresa, ser promovida no seu lugar e terminou o dia com a frustração te dar sempre o seu melhor em um lugar que não a merecia.
Os dois se encontram no final do dia, mais uma vez naquele elevador. Eles se olharam e nada disseram, mas logo se entenderam.
— Topa tomar um café? — Ele encontrou toda a sua coragem e resolver perguntar para aquela menina, dos olhos castanhos-claro, que não saiu da sua mente o dia inteiro.
— Pode ser uma cerveja? — Ela respondeu com um forte suspiro
— Claro!
E ali começou tudo ...
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